sábado, 20 de julho de 2013

estante

Era disso. Era daquilo. Era um indeciso que pouco sabia o que queria da existência. Pouco a ver com sua capacidade de olhar, mas de saber desejar. Desejava tudo e a todos sem pestanejar. Como escolher? Deixou de lado a consciência e passou a seguir si mesmo. Na estante, estanque, esquecida.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Mal Artista


Era o que ele precisava ouvir daquela vez. Sempre, na verdade. Sentia-se, de certa forma, um parasita que desejava somente obter dos outros alguma manifestação de carinho que lhe fizesse seguir. Subia toda noite naquele mesmo palco. Posicionava todos os dias a mesma câmera. Apontava cuidadosamente o mesmo lápis e escolhia o papel. Não era ator, cineasta ou desenhista, mas queria ser artista. Sabia que era. Alguém, um dia, lhe disse que ele poderia sê-lo. Acreditou.

Viu tantos outros amigos e conhecidos criarem carreiras e ele temia. Resguardava-se. Escondia tudo que fazia para que não fosse ridicularizado. Era esse seu sentimento. Tinha medo de tudo, na verdade. De ser esquecido, desajeitado, nulo. Fugiu de todos...

.. mas, acima de tudo, de si mesmo. 

No final, viu como foi viver diante dos olhares dos outros. Na verdade, os outros não estavam olhando pra ele, mas ele achava isso. Ninguém estava lá para apontar seus erros de português, sua performance desajeitada ou seus quilos a mais. Na verdade, até tinha pessoas assim, mas não fariam diferença pra ele. Se tivesse seguido em frente, não seria alguém genial como o cara que inventou a roda, mas nem precisava.

Afinal, escrever 'mal' ou 'mau' tornava ele um mal artista?

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Nojento

Compartilhou via Facebook. Sim, era uma imagem nojenta de um seio carcomido por larvas. Alguma campanha preventiva, não sei. Espalhou por toda sua rede de amigos e até alguns inimigos. 

Apareceu na minha timeline. Achei estranho, quis evitar qualquer contato maior da minha retina com aquela imagem nojenta e incômoda e tentei apagar imediatamente. Sim, apaguei do meu histórico de visitas, da minha vista, tudo. Mas não da minha frente. Dali por diante, aquele seio cheio de crostas nojentas povoa qualquer branco da minha mente. Noite após noite, aquele seio visitava minhas lembranças, como se fosse impossível ignorá-lo em quaisquer condições. 

Pouco me importava o alerta que esse amigo queria me oferecer, eu queria que ele me desse a opção de não olhar para aquele seio. Por mais que fechasse os olhos ou escutasse uma música qualquer, ele continuaria. Por que ainda não inventaram aquele remédio que nos faz esquecer definitivamente as coisas? 

Me dei um tiro na trigésima sétima noite em que aquele seio povoou os meus sonhos. Nunca mais apaguei imagem alguma daquele amigo. Que amigo...

domingo, 17 de março de 2013

Estar

E eu passei esse dia ouvindo a minha própria voz. Ela falava comigo todos os dias e eu (imagine!) não mais conseguia ouvir aquilo que eu mais desejava fazer: estar. Sim, você leu direito. Queria estar ao invés de ser. essa condição me parece um pouco menos sólida, mais flutuante... mutante, porque não dizer?

Era o que eu precisava nesse instante: um dia, ser um; noutro, outro. Aquela sexta-feira em que conheci aqueles olhos que vislumbravam toda maestria que eu parecia demonstrar enquanto destilava ensinamentos que, às vezes, nem eu mesmo acreditava. Como seria possível, deste jeito, inspirar a tantos? Será mesmo que sou este que todos acreditam que eu seja?

Neste instante, encontrei a solução: preciso acordar para 'estar' alguém e não 'ser' alguém. O ser lembra sólido, contínuo, corrente... e estar é efêmero, fugaz, mutável, como mais me pareço. No mesmo instante em que quero fugir com o circo e ter a fortuna que um Jobs sonhou tanto para conseguir... 

Como posso eu serr satisfeito se, daqui a cinco minutos, a fome e a sede de ser mais logo me aparecem?