terça-feira, 21 de julho de 2009

Um homem, um amigo e uma magrela



Era um dia como qualquer outro pós-chuva. E Mr Dalloway achou que deveria ter adiado mais um pouco a empreitada. Sempre procurava um jeito de adiar grandes desafios. Não gostava de admitir, mas era assim. Fazer o quê? Foi com ele o aventureiro Sawyer - nenhuma referência para os
Losteiros, ok? -, que lhe empurrou diversas vezes pelo campo barrento pra rodar. Era a primeira vez que experimentava a magrela. Dalloway já tinha falado que Sawyer devia ter lhe ensinado desde a semana passada. Repetiu de novo e mais uma vez. Sawyer relutava em ver seu amigo cair. Segurava firmemente nas suas tentativas de empurrar.

Aquele dia tinha reservado um monte de poças d'água. Será que daria pra encarar o primeiro dia com a magrela naquelas poças?

Ela não se incomoda, disse Sawyer, sorrindo com um lado só.

Eu ligo, foi a vez do sorriso de Dalloway.

Mas andar com ela na areia é mais difícil, engancha mais.

Então, quer dizer que, se eu conseguir na areia, vou ser mais profissa do que quem anda no asfalto?

Não chega a tanto. Nem se empolga. É o teu primeiro dia, Dalloway.

Bom, ele sentou no selim e segurou o guidom como se fosse um bote salva-vidas.

Calma, calma, não com tanta força. Ela é uma
lady. É com carinho que se faz isso, tá entendendo?

Na auto-escola foi mais fácil. Nem precisa pensar em equilíbrio.

Dalloway começou. O vento. Equilíbrio. As rodas tremem. Equilíbrio. Esquer... Não, direita.
Easy, boy, easy.

Conseguindo, conseguindo. Vá, minha linda, vá. Pronto, menos, menos. Mais devagar. Mais devagar. Des, des, desesquilíbrio. Aaaahhhh!!! Não, não caí ainda. Feliz, feliz. Tira os pés dos pedais. Isso. Uhuuuu!! Por que nunca me enxerguei aqui antes? É! É! Desperdiício, desequilíbrio total.

A terra molhada. A poça. Segundos depois, a magrela mergulhou, levando Mr Dalloway nas costas. Engoliu barro. A brancura da roupa sumiu. Sawyer se segurou pra não rir. Não queria desistimular o colega. Andou até ele, pensando se havia se machucado. Chegou. Achou. O sorriso mais largo que poderia encontrar no rosto de Dalloway. A risada mais enérgica da face da Terra apareceu ali. Sawyer compartilhou da felicidade do homem. Um homem que ainda não tinha experimentado o prazer de cair na lama, depois de umas rodadas de
bike.

Sawyer olhou para ele. E para si. Estava feliz, por ter dado ao amigo um momento como aquele.


Escrevi esse texto depois de minha experiência de andar pela primeira vez de bicicleta. Nunca é tarde pra experimentar certas coisas. Um amigo me proporcionou isso. Eternamente grato.