sábado, 28 de março de 2009

Dois personagens e o sonho



Quis fazer uma maratona comigo mesmo no sábado pela manhã, logo depois de acordar - fiquei com muita vontade de escrever. Gostei muito da experiência, me incentivou muito a prosseguir com algo que gosto bastante. Me dei cinco minutos para construir uma cena entre dois personagens, falando sobre um sonho.



Você: Comigo? Por quê?

Eu: Não sei. A gente não escolhe esse tipo de coisa.

Você: Inconsciente? Se escolhe, sim.

Eu: Como? Me explica.


Sonho.

Eu Sonhado toca no cabelo de Você Sonhado. Estão num banco, num lugar indefinido, sem ninguém. A sala parece familiar, mas nunca estiveram ali juntos antes.

Você Sonhado: Posso te fazer uma pergunta?

Eu Sonhado sorri.

Você Sonhado: Você gosta... de mim?

Fim do Sonho.


Você
: Bom, os sonhos são sobre o que se quer...

Eu: (interrompe) ... o que se teme ou se teme querer...

Você: É.

Eu: Bom, logo que acordei, deu uma vontade de...


Sonho.


Eu Sonhado: (sorri esperançosamente) Isso é um problema?

Você Sonhado levanta a cabeça e olha pra Eu Sonhado, que muda para uma decepção em uma fração de segundos.

Eu Sonhado: Não devia ter feito isso. Sabia. Agora não tem mais...

Fim do Sonho.


Eu
: ... escrever.

Você: É?

Eu: Esse tipo de coisa não acontece todo dia.

Você: Sonhar comigo?

Eu: Não... escrever.

Você demora para compreender as entrelinhas. Quando o faz, sorri. Ambos se entreolham, desviando timidamente o olhar em alguns momentos, silenciosamente.


(Terminou o tempo)

sexta-feira, 27 de março de 2009

"Invisível"


Recriação de um texto-exercício realizado anteriormente em grupo - Christiana, Franklin, Laura e Márcio - para o curso Dramaturgia - Na Fronteira das Linguagens. O coordenador Luiz Felipe Botelho pediu que recriássemos o texto do grupo à nossa maneira. Eis o resultado.



Novembro de 2008




Som de televisão fora do ar. Na sala, uma almofada, onde Laura está sentada com as pernas cruzadas, lendo um livro. Em frente a ambos, uma televisão.

LIVRO (OFF): (música romântica ao fundo) “Será que há limites para esse nosso amor? A responsabilidade? O teu erro? Não, esse é o motivo de querer sentir tanto o teu calor. Simplesmente aconteceu. Eu te prezo por seres tão natural e errado...”

Laura sorri, encantada, e passa mais algumas páginas. Lê e reage às palavras que está lendo.

LIVRO (OFF): (música de aventura) “Touché! Ah, pode esquecer, amigo! Eu nunca vou desistir! Os santos estão a me cercar nesse momento! Essa sua presença de espírito me comove.. Hahahaha! Nunca deixe...”

Laura fecha o livro e o abraça, sorrindo sutilmente. Começa a acariciá-lo, cheirá-lo, a sentir as páginas com as mãos. Deita no chão com ele no colo.

LIVRO (OFF): (ambiência de rua, com música suave) “Desculpe, estou meio indisposto hoje, mas confesso que gostaria de estar ao seu lado... pra simplesmente compartilharmos um a presença do outro, sem nada fazer. Simplesmente pra sentir o tempo passar...E quem sabe, possamos viver uma história...”

Laura sorri mais ainda. Aos poucos, o barulho da televisão começa a interferir na música anterior. O chiados começam dar lugar a sons nítidos de uma troca de canal na televisão.

TV (OFF): Boa noite a todos. Está começando mais um Programa de Cultura. Nessa noite, temos aqui no nosso estúdio o escritor Eric Santana, autor do livro “Invisível”. (Som de aplausos)

Laura se levanta, feliz, olhando para o livro e abraçando-o ainda mais. Começa a prestar atenção no que é dito com ansiedade.

TV (OFF): Bom, Eric, gostaria de começar olhe parabenizando pelo enorme sucesso do seu livro.

ERIC (OFF): Ah, obrigado. É uma grande honra pra mim poder ter esse sucesso todo. Agradeço a todos os que tiveram a oportunidade de comprar o livro.

Laura olha pro livro e sorri sutilmente.

TV (OFF): Bom, mas de onde veio a idéia desse livro, Eric?

ERIC (OFF): Ora, eu quis trazer um pouco mais de amor a esse mundo pós-moderno, minha gente. A gente tem aprender a ser mais verdadeiro quando está nesse...

TV (OFF): Mas, só uma pergunta, Eric: nós soubemos de última hora que você está sofrendo uma acusação de plágio por um...

ERIC (OFF): Essa é uma notícia sem confirm...

Laura olha, decepcionada, para o livro.

Música de mistério.

LIVRO (OFF): (música de mistério) “O que você pensa em fazer? Acha que é isso mesmo que vai acontecer? Que eu vou deixar todos esses meus demôniosm caminharem em direção a...”

Laura vai ficando cada vez mais desnorteada.

TV (OFF): (corta bruscamente) Não é isso que importa, Eric. Será que você não vê a gravid..”

ERIC (OFF): As idéias sempre vêm de algum lugar, minha gente. Shakespeare, Tolstoi, Homero. Se você pensar direi-“

LIVRO (OFF): Acredite no que eu lhe digo, meu bem. Não haverá de ser verdade tudo o que te dizem..Sabe, o que a gente tem é maior...”

ERIC (OFF): “Eu só cato os restos da criatividade alheia...”

LIVRO (OFF): “Nossa vida está sendo exposta. O nosso encanto não é mais o mesmo. Nossos olhares, nossos toques não são...”

Laura se ajoelha no chão, apertando os olhos bem forte, como se isso fosse fazer com que tudo fosse sumir. Uma de suas mãos quer jogar o livro fora, a outra quer ficar mais com ele.

ERIC (OFF): “Plágio? Que me importa? Falem que...’

LIVRO (OFF): “Nosso amor será sempre...”

ERIC (OFF): “Dinheiro representa..”

LIVRO (OFF): “Nosso respeito vale...”

ERIC (OFF): “Sucesso! E isso..”

LIVRO (OFF): “Viverá”

ERIC (OFF): “É por isso que...”

LIVRO (OFF): “Não importa..”

ERIC (OFF): “Trabal...”

LIVRO (OFF): “Aconteceu!”

Laura grita ao jogar o livro na televisão. Chiado de televisão fora do ar. As luzes se pagam lentamente, com Laura em estado de choque.

"Eu não posso fazer o que você me pede!"



Exercício de Construção Dramatúrgica em 10 minutos. Atividade integrante do Grupo de Estudos de Dramaturgia da Fundação Joaquim Nabuco. As regras eram: Dois personagens: um, humano; outro, imaginário. Frase inicial: "Eu nãoposso fazer o que você me pede."



25/03/09


Sérgio: Eu não posso fazer o que você me pede.

Céu: Não poder... Não poder é não ser.

Sérgio: Ser?

Céu: Isso é essencial... Quando podemos, temos essa sensação. Não de simplesmente estar. Mas de ser.

Sérgio: E você acha que eu quero ser?

Céu: Não há nada que o impeça.

Sérgio: Não... Quem disse que é isso que eu quero ser?

Silêncio. Céu olha firme para Sérgio.

Céu: Você aprendeu a ter escolha?

Sérgio dá de ombros.

Sérgio: Não todos?

Céu: Essa queda fez isso?

Sérgio: Talvez.. (pausa) Caindo ainda...

Céu: Você caiu?

Sérgio: Parece que algo mais está caindo aqui.

Pausa.

Céu: Eu?

Sérgio: Você me diz.

Céu: Pra toda queda, há um levantar?

Sérgio: Não.

Céu: Um mudar?

Sérgio: Já mudou? Você aprende rápido.

Céu: Tenho outros olhos.

Sérgio: Precisei viver a vida toda pra ver isso...

Céu: E?

Sérgio: E você já nasce pronto pra cair?

Céu: Não. Pra mudar.

Silêncio.

Sérgio: E por que preciso de tantas perguntas pra encontrar...

Céu: (interrompe) Uma resposta? E quem disse que eu encontrei?

Silêncio.

Céu: Estou à procura de mais perguntas.

Sérgio: Eu também.

Céu: E qual a sua pergunta agora?

Sérgio: "O que eu quero ser?"

Céu: Bom começo.

Sérgio: E agora?

Céu: Segunda pergunta. A partir daí...

Sérgio: Eu tenho de fazer o que você quer?

Céu: Não... Mas o que VOCÊ quer. É isso que eu estou pedindo.

(
Terminou o tempo)