quinta-feira, 4 de junho de 2009

Mr Dudelloway



Mr. Dalloway teve sua primeira aula. Pelo menos, é o que ele gostaria de acreditar. Parecia tão difícil que ele preferia se dizer um eterno novato. Sim, foi naquele campo aberto. Do lado, jogadores futeboleiam. Todos os dudes. Desenrolados como eles. Trocaram de lugar, ele e o instrutor. Este estava pronto pra pisar no freio assim que ele fizesse alguma besteira. Seria registrado. Pra sempre na risada daquele senhor gordo, com um bigode grande, um leão-marinho. A risada dos dudes.

Mr Dalloway: "Não faço parte disso aqui. Nunca me ensinaram. Meu pai devia ter me posto no colo e guiado minhas mãos naquela roda gigante".

Vá. Fundo na embreagem. Você se sente realmente um dude assim. Domina as rodas, tudo. Mas o freio vem logo do lado, tirando toda a diversão. Não fique assim, Mr. Dalloway.

Mr. Dalloway: "Como não? Um gentlemen seria capaz de chegar aos quarenta sem esse aprendizado tão útil? Como pude passar tanto tempo sem me sentir um dude?"

Pois é. De que tantos livros te serviram neste momento? Nada. Sua dissertação? O Simpósio sobre Psicanálise Jungiana na Oxford? Bem, seria capaz para tentar refletir suas respostas emocionais a esse momento. Mas está longe do que esses dudes admiram. O desenrolar. Ver os dois cones no retrovisor direito e os dois do esquerdo e saber desenroscar quando vira demais. Estancou? Problema. Reteste. Mais trinta conto. Derrubou um cavalete? Dois? Baliza não se erra, meu filho! Quer prestar atenção no que ele diz? Volante todo na direita, depois todo na esquerda. Sei, sei. Ele devia tá no carro pra te freiar, mas não tava. Instrutor que deixa aluno só tá pedindo pro cara ir s'imbora tentar. Mas, mesmo assim... Não tem nada que mude o que você fez, Mr. Nenhum daqueles futeboleiros faria isso. Olharam e continuarão olhando ainda por uns minutos. Na certa, o leão-marinho já sabe da tua obra-prima.

Mr. Dalloway: "Se eu tivesse feito tudo certo, ninguém comentava. (silêncio) Será que é isso mesmo que define um homem? Existe um medidor pra isso, não é?"

Dizem que é proporcional ao nível de cicatrizes que se tem. De quantos cachorros se correu. Acumule horas com as pipas - não vale ventilador, nem sacola de mercado, capice? Bicicleta? Como assim, não sabe? Vai t'imbora resgatar tua infância, rapá. No último galho, ainda tem uma carambola - esperando a hora de certa de quebrar e te jogar no chão.

Pra você poder dizer, já fui menino e, agora, dude.

Começa tudo de novo e ai de você se estancar na rampa.


A inspiração veio dos meus tormentos nas aulas práticas da autoescola, quando penei pra aprender certas coisas e pude perceber que certos ensimamentos que a escola não traz fazem falta.