segunda-feira, 16 de julho de 2012

Um corte ou Vertical

Era assim que me chamavam. Diziam que eu não ia além da epiderme da alma. Simples. Me atenho ao mais essencial que alguém poderia dizer. Não cavava. Isso. Cavar. Quem deseja ter suas palavras escavadas como se fosse um fígado na análise legística? Eu não. Me restringia a ouvir minha própria voz. E ela dizia muito pouco. Somente que não haveria nada de novo a se dizer. então, por quê fazê-lo? É dissertativo, eu sei. Gostaria de me escavar mais, se me permite. Quero tirar essa polidez insensata com que me expressei até o momento.


Deveras provinciano, digo. Qual o limite da minha sanidade? Será que aguentaria ficar seguidamente nessa tortura de me manter inócuo e educado enquanto todos parecem enlouquecer ao meu redor? É insosso. Desculpe pelo palavreado. Parece indelicado demais assim invadir a privacidade alheia com minhas reclamações sobre qualquer coisa. Até o português dos outros me preparo para corrigir. Sabe, para não ferir os sentimento, entende?

Um corte superficial, tudo bem. Leve arranhão, mas de que adianta carregar todas as facas e não se permitir fazer nenhum corte mais profundo? De que adianta seguir todas as regras se, um dia, não teremos mais nenhuma delas. É disso que tudo se trata? Quando foi que comecei a acreditar nisso? Por que tantas perguntas?

Onde estão as respostas? 

(Interrompo para uma checagem na vida social. Somente uma atualização. Sempre fugo de solicitações de meu calendário)

Superficial, eu disse. essa pose toda que você faz de muito profundo é somente um perfil, um corte, um parte. e me contento em conhecer somente esse trecho. Jamais seguiria por qualquer outro lado. Na verdade, prefiro o lado de fora. Sempre evita maiores confusões e exposições desnecessárias. Tiro as palavras que incomodam para deixar tudo mais limpo, mais comedido, menos intenso. Sabe a intensidade é uma forma pouco educada de dizer o que se sente. 

É isso mesmo? Eu realmente acredito no que estou falando? 

Algum dia alguém me dirá o contrário. Mas não é pra isso que servem as palavras?

sábado, 14 de julho de 2012

Horário

Estava atrasado. Queria ter desmarcado. Ele insistiu. O outro não quis saber. Pouco adiantava desmanchar. 

O suor lhe impregnava as pálpebras. Tropeçou na calçada e escorreu pelo bueiro incandescente. Deveria ter fugido enquanto havia tempo. Será que ainda havia bilhetes para o México?

Subiu de volta bueiro acima. Enxugou-se dos esgotos. Seguia em frente.

Eram as pessoas que o assustavam. Não tinha medo. De qualquer outra coisa a não ser... elas. Era imprevisível para onde fossem, o que lhe diriam, o que lhe fariam. 

Ao olhar nos olhos de outro qualquer, poderia encontrar qualquer coisa.. até ele mesmo. 

E de que ainda marcar horário para ouvir seus próprios medos...