quinta-feira, 31 de março de 2011

Papéis ao Vento


Acordou ao meio-dia. Um pouco de jazz para aproveitar o resto do dia. Pegou o capacete da moto e saiu disparada. Era o que queria da vida naquele instante: sentir o vento no rosto, por dentro da camisa, desequilibrando-se de tudo que o estava por vir no seu dia.

Parou. Chegou. Era sua culpa de que nada mudava. Queria permaneecer naquela estrada. Permanecer andando, sem olhar para trás em nenhum segundo.

Bom dia, chefe. O que tem pra hoje?

Pilhas de papéis. Todos os processos, documentos e planilhas que poderia ver na vida estavam naquela pilha. Um vento entrou sem saber de onde vinha nem para onde ia e carregou todos para dentro de um bueiro no meio da sala.

Cristina? Assim ouviu o chefe lhe chamando dentro do devaneio.

Não seria aquele o dia em que sentiria mais uma vez o poder do vento.


quarta-feira, 30 de março de 2011

Opera


Foi aqui que a gente deu a entrevista. Foi, sim. Era começo de 58.

Ela veio com um vestido caseiro vermelho, simples. Assim ela chegou. Ônibus.

Não, não. Ela veio de bolsa mesmo.

Foi, eu cheguei. E comecei a conversar com meu entrevistador.

Tinha um público, sim.

Eu não sei o que me deu. Uma náusea me veio.

Ela começou a diver tudo o que pensava. Nomes. Situações. Lembrava de tudo.

Foi. Ela começou a chorar de repente. Tava falando da lembrança de um dia na infãncia. Clichê.

como alguém começa a chorar no talk show e, sem se despedir, sai correndo? Era o que eu queria saber.

Não. Ela sabia que não dava para continuar ali. Fugiu para um penhasco dentro de si mesmo. Mesma? Não sei...

Foi. Ela não era o que imaginava. descobriu que sempre seria homem.

Não me importava o que tinha pensado de mim. Sempre seria.

Alguém tentou falar com ele?

...

Ela casou, anos depois. Não sei se foi com um ou uma...

quinta-feira, 24 de março de 2011

Uma carta...

Não te quero aqui comigo...

Quero estar só.. sozinho...

Alguem me ouve, nesse imenso eco da...

vivência?

Era esse que me seguia e me acompanhava

Não te quero tão perto. Me deixa longo e me acompanha..

Vela meu sono, amigo.

Me descanso e me deixo.

Quero te entregar essa carta de adeus para sempre.

terça-feira, 22 de março de 2011

Mente que mente

Que mente é essa, que se perde por tão pouco uso?

Quem é que usa sua mente o tempo todo da sua venda?

Era desse jeito...

costumava ser assim...

Esquece

Deixa

Não vá embora

Chegue mais... Mais...

Perto de mim, corpo

Você é meu corpo, mas me deixa de lado.

Quem te recompensa por estar comigo?

Preciso dessa tua esmola?

A tua mente me engana com esse externo que não se internaliza.

Te foge, te enforca... Me esquece e se esquece.

fugi e me esqueci de você.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Perdue

Perdido na sua percepção

...na sua consciência e na sua lambança de todo dia...

Era o que ele fazia na sua caminhada rumo ao descaminho.

Quem mais consegue se perder de sua própria vista?

Palavras pensadas e dispensadas

Volumes e desvácuos... Assim que segue na sua jornada formada.

Era o que te fazia mal e bem...

Como bem?

Era a perdição que lhe fazia encontrar o caminho.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Este sou

Descabido...

Desleizado.

Deslixado...

Era assim que pensava na tua mente.

Estou aqui na tua proposta.

Ganhei.

Deixei.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Carta para mim

Olha, não queria lhe deprimir. Então, escolhi palavras de um vocabulário esparso pra tentar te trazer algum sorriso. Catombo! Bolimba!

São palavras que vêm do fundo da alma pra tentar te fazer sorrir. Sem sucesso. A tristeza me leva e me eleva para o teu sorriso funesto. Deixa. Deixa eu cair pra tu dar risada da minha queda. Alguém mais pensa em te seguir? Vai. Vai.

Era desse jeito que pensava ser para você. Alegre, divertido talvez. Mas nunca funciona desse jeito. É assim que você me deprime, minha vida. Clichê, não? Meu drama e minha arte.

É isso que você me desafia a ser: autor de mim mesmo.

terça-feira, 15 de março de 2011

Coração que mata

Deixe-se ir, minha filha. Deixa ficar o que somente te faz querer seguir. É aquele sorriso? Toma-o para ti. É aquela voz embargada pelo charme e sedução do calor? Vai por onde ela te fala. Travou? Teste. Vernáculo da tua paixão. Segue. Me deixa. Me vaia. Dois. É isso que somos. Dois. Devíamos nos tornar tuas unhas e tuas carnes.

Teu sangue me corrói e me derrete. Quem é que pensa em seguir em frente? Tu? Ou aquele coração que me seguia no teu chão? Ele me esfaqueou na tentativa de me morrer. Suicídio da minha própria alma. Ela foge de mim. Que maldade me Mafalda? Foge-me. Mergulho-te.

Eu que pensava que teu coração me amava...me matava.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Meus

Era pra ser o primeiro dia de muitos, mas se perdeu em tantas desilusões e rompimentos que seria impossível reatar de novo as pazes com a vida. Era desse jeito que seguia. Era desse jeito que se sentia. Senil. Morto. Decapitado pela própria ambição e despeito. Despede-me. Despedaça-me. Quem é você é pra fazer isso? Quem é você que sempre me ofende desse jeito? Sou eu mesmo. Minha maior ofensa é contra mim, contra tudo aquilo que represento. Meu ódio. Minha raiva. Minha dor. Minha vergonha. Tudo isso é meu e de mais ninguém. quero guardá-lo a sete chaves e enterrá-lo comigo. Será que vale a pena te deixar entrar em mim, me conhecer e, provavelmente, me amar?

Seguiu assim até sua morte... sem perceber que já havia morrido para si mesmo desde sempre.